Community-a-holic
Por RamonPage
Certo dia eu twittei:
“Comunidade não é tão somente a união de pessoas em comum. É uma interseção1 de valores específicos de cada um.”
1 — No Twitt eu cito incorretamente “intercessão”. Na verdade, a ideia a ser passada é de “interseção” (teoria dos conjuntos).
Esse quote, na verdade, foi resultado de um devaneio que tive sobre comunidades. Após algumas semanas, percebi que o assunto é muito importante para ficar apenas num Twitt.
O que é comunidade?
O termo “comunidade” é proveniente da correlação “comum unidade”, ou seja, a união comum, a vivência em comum. Surgiu como definição para as pessoas que pertenciam à mesma aldeia, etnia, cultura, território ou família.
O crescimento da sociedade (incluindo a globalização) nos permitiu conhecer com mais proximidade outras formas de pensamento. Assim, as comunidades deixaram de ser meramente territoriais e passaram a ser constituídas, também, pela união de ideias.
E assim aconteceu também com a virtualidade. Desde o tempo do BBS, nós experimentamos formas virtuais de comunidade. A isso se dá o nome de CMC.
Louco por comunidade
Hoje considero-me community-a-holic (ou communityaholic) por perceber que não há crescimento cultural e intelectual sem a interação com outras pessoas. Nós seremos sempre insuficientes se caminharmos sempre sozinhos. As comunidades surgem da vontade do ser humano de se completar de alguma forma: no estilo de se vestir, no ritmo musical favorito, no esporte, no estudo, nas ideias, na profissão e etc. Mas isso, é claro, pode ser subjetivo, visto que há também quem deseja se unir a outros em prol de coisas negativas. Porém o foco deste post é discorrer sobre os benefícios em participar de comunidades e não o lado oposto.
Nonaka e Takeuchi2 classificam o conhecimento em dois tipos: o conhecimento tácito e o explícito. O conhecimento tácito é constituído de experiências individuais, habilidades e dom. É de difícil disseminação, pois normalmente requer treino. O conhecimento explícito, por sua vez, é todo conhecimento que é afirmado através de notações, documentos, teorias, especificações e etc. Sendo assim, é perceptível que é muito mais fácil adquirir conhecimentos explícitos, já que o conhecimento tácito está além de qualquer teoria.
2 — NONAKA, I., TAKEUCHI, H.. Criação de conhecimento na empresa: como as empresas japonesas geram a dinâmica da inovação. Rio de Janeiro: Campus, 1997.
E o que isso tem a ver com comunidades? Às vezes só descobrimos que sabemos dançar (conhecimento tácito) quando resolvemos fazer aulas de dança com outras pessoas.
Vamos somar ao assunto o dito por Rubem Alves3:
“A tendência da especialização é conhecer cada vez mais de cada vez menos”
É cômodo para qualquer um adquirir conhecimentos tácitos e explícitos sozinho ou num grupo fechado (o que também pode ser classificado como comunidade), porém é interessante pensar que quando estamos em grupos variados somos capazes de saber cada vez mais de cada vez mais coisas, contrapondo o que Rubem diz. Que mal há em ser programador Python e participar de eventos de Rails e vice-e-versa?
3 — ALVES, Rubem. Filosofia da Ciência: Introdução ao Jogo e a Suas Regras. Loyola, 2008.
Para explicar esse processo de troca de experiências, Nonaka e Takeuchi criaram a Espiral do Conhecimento, que transforma a competição de ideias em cooperação através de quatro tipos de interação entre conhecimento tácito e explícito. São elas:
- Socialização: é a interação tácita, por meio da observação, imitação ou prática (conhecimento tácito para conhecimento tácito);
- Externalização: é a transformação de conhecimento tácito em explícito;
- Combinação: é o ato de unir conhecimentos explícitos;
- Internalização: é a absorção de conhecimentos explícitos, visando enriquecer os conhecimentos tácitos.
E isso só é possível quando estamos em grupo. São as comunidades ajudando na transformação do nosso conhecimento científico.
Pequenos atos fazem grandes revoluções
Tendo esse pensamento sobre comunidades na cabeça, eu me engajei no Small Acts Manifesto que sugere práticas para transformar a vida das pessoas através das comunidades. Dentro desse time de pensadores estão: Henrique Bastos, Caike Souza (a ideia do slogan é dele), Everton Carpes, Rodolfo Carvalho e muitos outros amigos de #horaextra.
A lição que fica é: nosso crescimento depende da conviência com outras pessoas, então é preciso que estejamos abertos à tudo de novo que nos rodeia. Os eventos de tecnologia; os eventos do Twitter; as listas de discussão por e-mail; os encontros semanais; são pequenos atos (Small Acts) que ajudam na construção de pessoas cada vez melhores em essência pessoal, social e intelectual.
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